terça-feira, 12 de abril de 2011

O que é cordel?

Você já imaginou uma conversa em versinhos do Lobo com a Chapeuzinho Vermelho? Com a literatura de cordel, até os contos clássicos podem ser rimados e transformados em poesia popular.
Muito comum no Nordeste, esse gênero da literatura chegou ao Brasil na mala de viajantes que vinham da Europa.
As histórias eram escritas em folhetos e pregadas em um cordão. Assim, colocadas em sequência, elas ganhavam começo, meio e fim.
Como muitas pessoas não sabiam ler e escrever, as palavras rimadas eram facilmente decoradas. E de boca em boca, o cordel se espalhou pelo sertão.

O QUE É CORDEL?

Os cordéis são feitos em versos. Cada verso é uma linha que compõe um poema. E agrupando esses versos em um conjunto, você forma uma estrofe.
Agora, para ser cordel de verdade, é preciso levar três coisas em consideração: a rima, a métrica e a oração.

A RIMA

Rimar é repetir o mesmo som no final dos versos. Chocolate, por exemplo, rima com abacate. Boneca com caneca. Futebol com caracol e assim por diante.

A MÉTRICA

Este é um assunto um pouco mais complicado. Ela representa o tamanho dos versos, pois métrica vem de metro.
O que mais se usa no cordel é o redondilha maior. Nele, cada frase é feita com sete sílabas. Como esta: “O Ce-a-rá é meu chão”.
Os cordelistas podem fazer isso de cabeça, usando a intuição. Mas, muitas vezes, esse trabalho é totalmente raciocinado.

A ORAÇÃO

É o último passo passo para você aprender e antes de treinar, escrevendo seu próprios versinhos. Para o escritor e artista cearense Klévisson Viana, é preciso “dizer coisa com coisa”, ter espontaneidade e clareza no assunto que se vai escrever ou falar.
De nada adianta ficar preso às rimas, por exemplo, e fugir do tema. Um bom verso de cordel é aquele que junta os três passos em uma única história.
Depois dos versos prontos é que vem as ilustrações. Elas aparecem no meio da história e também na capa. A técnica de ilustração mais usada nos cordéis, desde 1950, é a xilogravura. O desenho é feito na madeira e, para imprimir, o artista passa tinta nessa peça e depois a carimba em um papel.

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Cordel de Chapeu
Um dia sua mãe lhe disse:
- Chapeuzinho vá deixar
Um bolo pra sua avó
Que acabei de confeitar
Mas tenha muito cuidado
Pra na mata não entrar.
chapeu1
A menina pega o bolo
E sai cantando feliz
A princípio ela fez tudo
De acordo como a mãe quis
Mas vendo uma borboleta
Fez algo que não condiz…

Chapeuzinho corre atrás
Da borboleta azulada
E se afasta do caminho
Da sua rota traçada.
Com pouco tempo a menina
Tava na mata fechada.

Nesse momento ela viu
No meio do matagal
Um vulto muito assombroso
Era um lobo colossal
Porém Chapeuzinho achou
Ser ele um manso animal.
lobo1
O lobo fingindo ser
Criatura bem mansinha
Aproximou-se dizendo:
- O que faz aqui sozinha?
Ela disse: – Vou deixar
Um bolo pra vovozinha.

O lobo ficou pensando:
- Bolo eu não vou querer
Mas você e sua avó
Vou devorar com prazer
Pois faz tempo que estou
Sem nada para comer.

- Como é que você faz
Para entrar na casa dela?
A menina diz: – É simples
Fica a chave na janela
Pois é pra quando eu ir lá
Não precisar chamar ela.
casinha1
Responde o lobo dizendo:
- Vá pra junto de sua avó
Porque a casinha dela
Fica lá num cafundó
E quem vive assim distante
Não gosta de ficar só.

Depois disso o lobo pegou
Um atalho no caminho
E chegou logo na casa
Da vovó da Chapeuzinho
E entrou nela falando
Como a menina, mansinho.

A vovó acreditou
Ser da sua neta a voz
Porém quem entrou no quarto
Foi o tal lobo feroz
Que logo engoliu a velha
Com uma fome muito atroz.

Depois o lobo deitou-se
Na cama ainda quentinha.
Pois ouviu que ia chegando
A inocente netinha
Que gritava do terreiro:
- Cheguei linda vovozinha!
lobo2
O lobo estava na cama
Em um lençol enrolado
Pra agradar a menina
Ficou quieto e camuflado
E foi dizendo bem alto:
- Filha estou com resfriado!

Respondeu a Chapeuzinho:
- A senhora está mudada.
As orelhas tão compridas
E a voz embaraçada
Me diga o porque, vovó?
Pois já não entendo nada…

Minhas orelhas compridas
São para melhor te ouvir.
Venha pra perto de mim
Porque não posso sair
E devido estar doente
Se eu levantar vou cair.

A Chapeuzinho responde
Já com voz estremecida:
- Pra que essa boca tão grande
Com dentes bem guarnecida?
Me diga por caridade,
Vozinha da minha vida!

O lobo disse: – Menina
É para te devorar!
E engoliu a coitada
Com pressa e sem mastigar
Do jeito como ele fez
Com a vovó dela ao chegar.
cacador
Mas o lobo não sabia
Que um caçador valente
Andava no seu encalço
E chegou lá, felizmente
Bem no exato momento
Que ele comeu a inocente.

O caçador fere o lobo
Ali, com um tiro mortal
E com sua faca abre
A barriga do animal
E tira a avó e a menina
Inda com vida, afinal.
FIM



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