Você já imaginou uma conversa em versinhos do Lobo com a Chapeuzinho Vermelho? Com a literatura de cordel, até os contos clássicos podem ser rimados e transformados em poesia popular.
Muito comum no Nordeste, esse gênero da literatura chegou ao Brasil na mala de viajantes que vinham da Europa.
As histórias eram escritas em folhetos e pregadas em um cordão. Assim, colocadas em sequência, elas ganhavam começo, meio e fim.
Como muitas pessoas não sabiam ler e escrever, as palavras rimadas eram facilmente decoradas. E de boca em boca, o cordel se espalhou pelo sertão.
O QUE É CORDEL?
Os cordéis são feitos em versos. Cada verso é uma linha que compõe um poema. E agrupando esses versos em um conjunto, você forma uma estrofe.
Agora, para ser cordel de verdade, é preciso levar três coisas em consideração: a rima, a métrica e a oração.
A RIMA
Rimar é repetir o mesmo som no final dos versos. Chocolate, por exemplo, rima com abacate. Boneca com caneca. Futebol com caracol e assim por diante.
A MÉTRICA
Este é um assunto um pouco mais complicado. Ela representa o tamanho dos versos, pois métrica vem de metro.
O que mais se usa no cordel é o redondilha maior. Nele, cada frase é feita com sete sílabas. Como esta: “O Ce-a-rá é meu chão”.
Os cordelistas podem fazer isso de cabeça, usando a intuição. Mas, muitas vezes, esse trabalho é totalmente raciocinado.
A ORAÇÃO
É o último passo passo para você aprender e antes de treinar, escrevendo seu próprios versinhos. Para o escritor e artista cearense Klévisson Viana, é preciso “dizer coisa com coisa”, ter espontaneidade e clareza no assunto que se vai escrever ou falar.
De nada adianta ficar preso às rimas, por exemplo, e fugir do tema. Um bom verso de cordel é aquele que junta os três passos em uma única história.
Depois dos versos prontos é que vem as ilustrações. Elas aparecem no meio da história e também na capa. A técnica de ilustração mais usada nos cordéis, desde 1950, é a xilogravura. O desenho é feito na madeira e, para imprimir, o artista passa tinta nessa peça e depois a carimba em um papel.
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Cordel de Chapeu
Um dia sua mãe lhe disse:
- Chapeuzinho vá deixar
Um bolo pra sua avó
Que acabei de confeitar
Mas tenha muito cuidado
Pra na mata não entrar.
- Chapeuzinho vá deixar
Um bolo pra sua avó
Que acabei de confeitar
Mas tenha muito cuidado
Pra na mata não entrar.
A menina pega o bolo
E sai cantando feliz
A princípio ela fez tudo
De acordo como a mãe quis
Mas vendo uma borboleta
Fez algo que não condiz…
E sai cantando feliz
A princípio ela fez tudo
De acordo como a mãe quis
Mas vendo uma borboleta
Fez algo que não condiz…
Chapeuzinho corre atrás
Da borboleta azulada
E se afasta do caminho
Da sua rota traçada.
Com pouco tempo a menina
Tava na mata fechada.
Da borboleta azulada
E se afasta do caminho
Da sua rota traçada.
Com pouco tempo a menina
Tava na mata fechada.
Nesse momento ela viu
No meio do matagal
Um vulto muito assombroso
Era um lobo colossal
Porém Chapeuzinho achou
Ser ele um manso animal.
No meio do matagal
Um vulto muito assombroso
Era um lobo colossal
Porém Chapeuzinho achou
Ser ele um manso animal.
O lobo fingindo ser
Criatura bem mansinha
Aproximou-se dizendo:
- O que faz aqui sozinha?
Ela disse: – Vou deixar
Um bolo pra vovozinha.
Criatura bem mansinha
Aproximou-se dizendo:
- O que faz aqui sozinha?
Ela disse: – Vou deixar
Um bolo pra vovozinha.
O lobo ficou pensando:
- Bolo eu não vou querer
Mas você e sua avó
Vou devorar com prazer
Pois faz tempo que estou
Sem nada para comer.
- Bolo eu não vou querer
Mas você e sua avó
Vou devorar com prazer
Pois faz tempo que estou
Sem nada para comer.
- Como é que você faz
Para entrar na casa dela?
A menina diz: – É simples
Fica a chave na janela
Pois é pra quando eu ir lá
Não precisar chamar ela.
Para entrar na casa dela?
A menina diz: – É simples
Fica a chave na janela
Pois é pra quando eu ir lá
Não precisar chamar ela.
Responde o lobo dizendo:
- Vá pra junto de sua avó
Porque a casinha dela
Fica lá num cafundó
E quem vive assim distante
Não gosta de ficar só.
- Vá pra junto de sua avó
Porque a casinha dela
Fica lá num cafundó
E quem vive assim distante
Não gosta de ficar só.
Depois disso o lobo pegou
Um atalho no caminho
E chegou logo na casa
Da vovó da Chapeuzinho
E entrou nela falando
Como a menina, mansinho.
Um atalho no caminho
E chegou logo na casa
Da vovó da Chapeuzinho
E entrou nela falando
Como a menina, mansinho.
A vovó acreditou
Ser da sua neta a voz
Porém quem entrou no quarto
Foi o tal lobo feroz
Que logo engoliu a velha
Com uma fome muito atroz.
Ser da sua neta a voz
Porém quem entrou no quarto
Foi o tal lobo feroz
Que logo engoliu a velha
Com uma fome muito atroz.
Depois o lobo deitou-se
Na cama ainda quentinha.
Pois ouviu que ia chegando
A inocente netinha
Que gritava do terreiro:
- Cheguei linda vovozinha!
Na cama ainda quentinha.
Pois ouviu que ia chegando
A inocente netinha
Que gritava do terreiro:
- Cheguei linda vovozinha!
O lobo estava na cama
Em um lençol enrolado
Pra agradar a menina
Ficou quieto e camuflado
E foi dizendo bem alto:
- Filha estou com resfriado!
Em um lençol enrolado
Pra agradar a menina
Ficou quieto e camuflado
E foi dizendo bem alto:
- Filha estou com resfriado!
Respondeu a Chapeuzinho:
- A senhora está mudada.
As orelhas tão compridas
E a voz embaraçada
Me diga o porque, vovó?
Pois já não entendo nada…
- A senhora está mudada.
As orelhas tão compridas
E a voz embaraçada
Me diga o porque, vovó?
Pois já não entendo nada…
Minhas orelhas compridas
São para melhor te ouvir.
Venha pra perto de mim
Porque não posso sair
E devido estar doente
Se eu levantar vou cair.
São para melhor te ouvir.
Venha pra perto de mim
Porque não posso sair
E devido estar doente
Se eu levantar vou cair.
A Chapeuzinho responde
Já com voz estremecida:
- Pra que essa boca tão grande
Com dentes bem guarnecida?
Me diga por caridade,
Vozinha da minha vida!
Já com voz estremecida:
- Pra que essa boca tão grande
Com dentes bem guarnecida?
Me diga por caridade,
Vozinha da minha vida!
O lobo disse: – Menina
É para te devorar!
E engoliu a coitada
Com pressa e sem mastigar
Do jeito como ele fez
Com a vovó dela ao chegar.
É para te devorar!
E engoliu a coitada
Com pressa e sem mastigar
Do jeito como ele fez
Com a vovó dela ao chegar.
Mas o lobo não sabia
Que um caçador valente
Andava no seu encalço
E chegou lá, felizmente
Bem no exato momento
Que ele comeu a inocente.
Que um caçador valente
Andava no seu encalço
E chegou lá, felizmente
Bem no exato momento
Que ele comeu a inocente.
O caçador fere o lobo
Ali, com um tiro mortal
E com sua faca abre
A barriga do animal
E tira a avó e a menina
Inda com vida, afinal.
Ali, com um tiro mortal
E com sua faca abre
A barriga do animal
E tira a avó e a menina
Inda com vida, afinal.
FIM
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